Jornalismo Cidadão: Como solicitar o registro de jornalista

    Você sabia que o ministério do trabalho liberou o registro profissional de jornalista devido a ascensão do jornalismo cidadão? A facilidade em produzir conteúdo informativo na era digital trouxe o jornalismo a um novo patamar. Mesmo com algumas dificuldades iniciais como a propagação de fake news, a participação mais próxima da população na divulgação de notícias deixou a sociedade mais democrática. Porém a formação de um corpo básico de conhecimento a respeito nunca se fez tão necessário e urgente.

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Oque é jornalismo cidadão

    Jornalismo Cidadão é onde cidadãos leigos, sem formação jornalística, participam no processo de coleta, reportagem, análise ou principalmente do compartilhamento de notícias e informações. Também é conhecido como jornalismo colaborativo, jornalismo participativo, jornalismo democrático, jornalismo amador ou ainda como citizen journalism, networked journalism (jornalismo em rede), grassroots journalism (jornalismo raiz) e open source journalism.

    O jornalismo cidadão ganhou força nos últimos anos devido as novas ferramentas de edição para publicação na internet e a popularização dos celulares. Com essa tecnologia, os cidadãos podem frequentemente relatar notícias de última hora — break news — mais rapidamente do que os jornalistas de mídia tradicional.

Jornalismo e Marketing

    De acordo com a Wikipédia:

Jornalismo é a coleta, investigação e análise de informações para a produção e distribuição de relatórios sobre a interação de eventos, fatos, ideias e pessoas que são notícia e que afetam a sociedade em algum grau.
Marketing ou mercadologia ou, mais raramente, mercância, é o processo usado para determinar que produtos ou serviços possam interessar aos consumidores, assim como a estratégia que será utilizada nas vendas, comunicações e no desenvolvimento do negócio. A finalidade do marketing é criar valor e satisfação ao cliente, gerindo relacionamentos lucrativos para ambas as partes.

Porque entender sobre jornalismo

    A facilidade no acesso e produção de notícias e informações vem com um preço: a enorme quantidade de publicações sem uma curadoria ágil e precisa para checar os fatos. Logo a formação de um senso crítico na população se faz necessária, pois devido a essa crise de confiança generalizada até mesmo veículos de notícias profissionais têm sua autoridade contestada e hoje começam a lançar iniciativas para analisar e desmentir publicações populares dentre as fake news.

    É interessante analisar jornalismo e marketing juntos, ambas as áreas envolvem comunicação e utilizam técnicas muito semelhantes na internet. Cada um estrutura as informações de modo que agregue valor tanto para o público em geral quanto para interesses privados. Porém o jornalismo deveria se mostrar imparcial, mas desde há muito tempo se sabe o valor de manipular a opinião pública. E não é de hoje que notícia virou negócio.

    O jornalismo clássico não está conseguindo se adaptar na era moderna, com dificuldade de captar recursos e com a facilidade de acesso a informação vários impérios começam a ruir. O modelo clássico está tão desorientado, que restringir o acesso no meio digital aos assinantes passou a ser uma solução de arrecadação, contrariando em partes o verdadeiro ideal do jornalismo que é manter a sociedade informada. Porém o jornalismo cidadão ainda não amadureceu o suficiente. Muitas iniciativas terminam adotando o modelo tradicional para se financiar. Se alinham a uma narrativa ideológica, e seguindo o antigo formato de fazer e vender notícia mais preocupados em modelar a opinião pública do que realmente informar.

    O marketing por outro lado é uma metamorfose ambulante. Hoje os consumidores participam ativamente com avaliações e recomendações passando mais credibilidade, sendo essenciais no marketing online. Empresas ou serviços que não se adaptam ou lançam campanhas que não condizem com a realidade são massacradas.

    Diferente das relações exclusivamente profissionais e financeiras, as empresas hoje se esforçam para parecer "amigas" em uma relação mais pessoal com o público, pois essa é uma linguagem natural que transmite maior confiança. A própria economia está sendo re-analisada usando psicologia sob uma nova ótica, com o Nobel de 2017 Richard H. Thaler cunhando o termo Economia Comportamental, mostrando que o "hommos economicus" não emprega tanto o uso da razão nas relações financeiras como se pensava originalmente.

    Hoje a atenção pode ser gerada em abundância, mas confiança é um recurso cada vez mais escasso. A ascensão das fake news e a crise do jornalismo é grave, a sociedade atual precisa formar um conhecimento básico e atualizado que possa ser utilizado de maneira prática e democrática, descentralizando e evoluindo o senso crítico. Precisa se preparar para essa era de abundância de informação. O atual cenário gradualmente aproxima os repórteres do público, diferente da antiga relação profissional intermediada por alguma instituição ou empresa jornalística. Moldar as notícias para melhor controlar a opinião popular e servir aos próprios interesses ainda será uma prática comum mesmo com a popularização do jornalismo cidadão. Porém essa já era uma prática utilizada por grande parte da imprensa, especialmente as que têm mais dependência financeira ou as fortemente ligadas a grandes conglomerados econômicos. Muitos jornais de cidades pequenas ainda têm a maior parte da sua receita mantida pelas prefeituras ou algum órgão do Governo, logo suas matérias dificilmente os criticam.

    Os seguintes trechos foram retirados do "Data Journalist Handbook":

Em agosto de 2010, eu e alguns colegas do Centro Europeu de Jornalismo organizamos o que acreditamos ser uma das primeiras conferências internacionais sobre jornalismo de dados, realizada em Amsterdã. Naquele momento, não havia muitas discussões sobre o tema e poucas organizações eram amplamente reconhecidas por trabalhar na área.

    Hoje jornalistas devem publicar dados estruturados, compreensíveis por máquinas, ao lado do tradicional, métodos científicos para coleta e análise de dados, em vez de técnicas literárias, para permitir que o jornalismo alcançasse sua busca pela objetividade e verdade... A abundância de informações que os jornalistas não necessariamente sabem como manipular, a internet e as tecnologias digitais estão alterando fundamentalmente a forma como a informação é publicada.

    O princípio na base da fundação da estrutura de links da web é o mesmo princípio de citação usado nos trabalhos acadêmicos, o jornalismo de dados efetivamente representa a democratização de recursos, ferramentas, técnicas e métodos antes restritos aos especialistas. O interesse das redações brasileiras e mundiais pelas práticas de jornalismo guiado por dados não está ligado apenas a seus benefícios para as rotinas produtivas e o atendimento do interesse público, mas também à esperança de salvar uma indústria em decadência justamente por efeito das tecnologias digitais.

    O jornalista brasileiro, como muitos outros de tradição mediterrânea é, em geral, um escritor-humanista.

    A alergia ao pensamento lógico, racional, e quantitativo: Tenha em conta só os seguintes fatos: Alguns dos principais jornais do país continuam a publicar horóscopos sem pudor nenhum; as TVs nacionais cobrem aparições de virgens e santos como se fossem fatos, e não ilusões; a principal revista semanal de informação geral é uma fonte substancial de exemplos de grosseira falta de critério estatístico e visual.

    O ensino universitário do jornalismo: A falta de sabedoria científica e tecnológica é culpa, em grande parte, de um sistema de educação que não tem se adaptado às necessidades dos jornalistas de hoje. Em um mundo em que os dados são cada vez mais acessíveis, em que empresas e governos contratam especialistas para manipular dados antes de apresentá-los ao público, o corpo profissional, que na teoria teria que servir de filtro, carece das habilidades necessárias para cumprir com seu trabalho adequadamente. Pior, por culpa do próximo ponto que descrevo, também está se blindando contra colegas que possam ajudar nessa tarefa.

    A obrigatoriedade do diploma: A decisão de fazer o diploma universitário de jornalismo obrigatório para o exercício da profissão pode dificultar o emprego de gente com perfil diverso para as redações a não ser em posições de segunda categoria. Alem disso, a exigência do diploma servirá também como desculpa para que os departamentos de Jornalismo não sintam a necessidade de se renovarem para oferecer aos estudantes um melhor treinamento em habilidades conceituais e tecnológicas.

    O Google organizou um conjunto de cursos gratuitos sobre jornalismo e como utilizar diversas de suas ferramentas, o News Lab. Desde os fundamentos básicos até o elegante jornalismo de dados, e ainda oferece a oportunidade de aparecer no Google News desde que seu conteúdo tenha intuito informativo e não publicitário.

Como solicitar o Registro de Jornalista:

    O ministério do trabalho liberou o registro profissional de jornalista sem necessidade de diploma na área devido essa ascensão do jornalismo cidadão.

  1. Agendar um horário no Sistema de Atendimento Agendado – SAA
  2. Acessar o Sistema de Registro Profissional – SIRP
  3. Comparecer no horário marcado com os documentos originais e cópias requisitados

Choque de Conteúdo

    De acordo com Mark Schaefer choque de conteúdo é o limiar que a sociedade cruzou produzindo mais conteúdo do que alguém possa consumir. A cada minuto por exemplo, 300 horas de vídeo são upadas para o Youtube. A tendência é que muitas pessoas se tranquem em suas bolhas consumindo cada vez mais conteúdo que agrade a própria opinião, sugerido não só por algoritmos mas também se socializando cada vez mais com grupos que compartilham dos mesmos valores. Assim acreditam estar se informando quando na verdade só reforçam os conceitos e idéias que já possuem.

    No Foldit — uma plataforma com jogos para resolver problemas científicos — em 10 dias um grupo de pessoas não especializadas, sem saber bioquímica ou comportamento atômico, foi capaz de resolver um problema que já durava 15 anos no campo da medicina, desenvolvendo uma proteína contra um vírus parecido ao do HIV.

A média das opiniões geralmente é mais assertiva que as opiniões individuais.

— A Sabedoria das Multidões, de James Surowiecki 

    Esse é o valor do Jornalismo cidadão. Cada oportunidade de colaborar, coordenar e agir coletivamente aumenta nossa própria autonomia. A exploração individual abrange um horizonte maior de dados, porém as conclusões, aplicações e descobertas são melhor exploradas de maneira coletiva. Às vezes existe uma pérola escondida em uma simples conversa com qualquer um, com sabedoria que devemos garimpar e recolher dia após dia cada uma dessas brilhantes contribuições anônimas e edificar melhor nossa opinião.

Ao treinar sozinhos muitas vezes estamos edificando nossos próprios erros.

— Vesemir, em The Witcher 3

    Em pouco tempo será mais lucrativo manter as pessoas conectadas do que vender pacotes de acesso a internet. A confiabilidade cada vez mais descentralizada na rede logo tornará óbvio o valor de manter uma sociedade mais crítica e vigilante. Hoje é o jornalismo, mas em pouco tempo o próprio conceito de valor entrará em pauta. Quanto tempo as relações econômicas tradicionais que envolvem a idéia de dinheiro em uma sociedade hiperconectada e cada vez mais informada ainda pode durar? Informação não gera valor, informação é o verdadeiro valor. Exerça sua cidadania.

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